Hoje eu não quero a paixão
Que vinca os lençóis
Que umedece a pele
Não quero a luz pretensiosa dos faróis
Quero luz de abajur
Alguma penumbra
A suavidade da respiração profunda
Não quero o beijo abrasado
Que ruboriza a face
E acelera o toque
Quero a placidez do olhar contemplativo
A serenidade do fogo amortecido
Necessito do que faz pouco ruído
Quero o sentimento nomeado amor
Que se edifica no tempo com labor
Como o vinho esquecido na adega
Do qual se extrai o melhor sabor
Não quero da paixão
O encantamento passageiro
Quero o sentimento verdadeiro
Já não traspasso ondas encrespadas
Prefiro a estabilidade das quedas d'água
O sentimento que percorre praias mansas
Não faz alarde
É fonte serena
Pouco arde
É doação e renúncia
Cumplicidade