Um dia, quem sabe,ela, que também gostava de bichos,apareçanuma alameda do zôo,sorridente,tal como agora estáno retrato sobre a mesa.Ela é tão bela,que, por certo, hão de ressuscitá-la.Vosso Trigésimo Séculoultrapassará o examede mil nadas,que dilaceravam o coração.Então,de todo amor não terminadoseremos pagosem inumeráveis noites de estrelas.Ressuscita-me,nem que seja só porque te esperavacomo um poeta,repelindo o absurdo quotidiano!Ressuscita-me,nem que seja só por isso!Ressuscita-me!Quero viver até o fim o que me cabe!Para que o amor não seja mais escravode casamentos,concupiscência,salários.Para que, maldizendo os leitos,saltando dos coxins,o amor se vá pelo universo inteiro.Para que o dia,que o sofrimento degrada,não vos seja chorado, mendigado.E que, ao primeiro apelo:– Camaradas!Atenta se volte a terra inteira.Para viverlivre dos nichos das casas.Para que doravantea família sejao pai,pelo menos o Universo,a mãe,pelo menos a Terra.– 1923, tradução de Haroldo de Campos
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